segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Europa digere mal fiasco de Copenhaga

As Nações Unidas e os líderes devem fazer uma nova tentativa de acordo na conferência do México, marcada para Dezembro de 2010.
A montanha pariu um rato. Depois de uma longa epopeia negocial, os líderes mundiais foram incapazes de fazer desta a cimeira a ‘Ialta para o clima' e, em vez de salvar o planeta, salvaram apenas a face com um texto de duas páginas e meia, cheio de intenções e nenhuma obrigação. Ultrapassada nas negociações pelos EUA e países emergentes, a Europa sai de Copenhaga frustrada e impotente para convencer o mundo.
A única ambição que sobra do encontro é renovar a promessa de tentar de novo na próxima reunião no México em Dezembro de 2010. Mas para cúmulo, o texto nem sequer tem valor legal. Sem unanimidade, as Nações Unidas apenas "tomam nota" do acordo. "Temos de transformar isto num acordo vinculativo no próximo ano. A sua importância só será reconhecida quando for lei internacional", disse Ban Ki Moon, secretário geral da ONU. Mas nos termos deste acordo a luta para o aquecimento global vai continuar a ser definida em cada capital ao sabor da agenda interna de cada país ou bloco: era esta a visão climática dos EUA que acabou por levar a melhor na conferência das Nações Unidas.
A Europa, líder mundial em políticas assertivas para o clima, acabou por ser relegada para segundo plano na fase final das negociações, com a eliminação de metas para a redução de emissões de CO2, nem sequer para 2050, como havia já decidido o G8+G5: nesse sentido Copenhaga é um passo atrás.
Depois dos relativos êxitos do G20 na resposta à crise, o desfecho frustrante da ONU para o clima pode agora despoletar um conjunto de políticas de teor proteccionista, como um imposto de carbono para os países com objectivos climáticos menos ambiciosos. Para as empresas europeias o resultado é misto. Um acordo vinculativo "trazia certeza legal" para os investimentos em tecnologias limpas, lembra a BusinessEurope. A concretização de esforços comparáveis entre os blocos mundiais também contribuiria para uma integração dos mercados de carbono, que devem por agora devem permanecer pouco activos e, fruto deste acordo, com um preço do carbono mais baixo. Este cenário pode ser positivo para as empresas mais poluentes. Apesar de se queixarem da concorrência desleal das congéneres chinesas ou americanas, fruto das limitações de CO2 na Europa, podem levantar o pé do acelerador no processo de reconversão.
A nível geopolítico a COP15 marca o ascendente cada vez maior do G2 (EUA e China) na regulação mundial. Isso e a emergência do Brasil como um ‘player' mundial. Aliás, o acordo foi desenhado numa pequena sala do Bella Center de Copenhaga entre os presidentes dos EUA, Barack Obama, do Brasil Lula da Silva, da Índia Manmohan Singh e o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao. "Quando é para baixar a ambição a Europa não está presente", ironizou o presidente da Comissão, Durão Barroso. A chanceler alemã, Angela Merkel, não escondeu "sentimentos mistos" em relação ao acordo, que o presidente francês Nicolas Sarkozy chama de "imperfeito".
Os europeus, que entraram em Copenhaga com o desejo de elevar o corte de emissões de 20 para 30%, hesitaram em apoiar um acordo que deixa tudo na mesma. Queriam um acordo sobre o clima e obtiveram apenas um acordo para o desenvolvimento, com a criação de um fundo climático para os países mais pobres de 30 mil milhões de dólares para gastar até 2012 (onde Japão e UE oferecem cada um o triplo dos EUA). Isso e uma promessa de mobilizar 100 mil milhões para estes países até 2020, que deixa em aberto de onde vem o dinheiro.
Depois da reunião com os emergentes, Obama abandonou a cimeira reconhecendo que o texto "não é suficiente para combater a ameaça das alterações climáticas mas é um importante primeiro passo". "Um primeiro passo para uma nova ordem climática mundial - nada mais mas também nada menos que isso", acrescenta Merkel.
Já com Obama a bordo do Air Force One, os líderes europeus tentaram ainda ‘melhorar' o acordo reinscrevendo reduções mundiais de CO2 na ordem dos 50% até 2050. Em vão. Os países desenvolvidos, incluindo os EUA, aceitariam essa meta e queriam deixar escrito o seu compromisso com a redução de 80% até essa data. Mas a China, mesmo não sendo implicada por essa meta, impediu essa quantificação alegando que isso lhes colocaria pressão para seguir o exemplo. "Crescer a ritmos de dois dígitos é um objectivo, não é negociável para a China", explica um negociador europeu, "seja por que causa for".

(Fonte: Diário Económico)

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